aqui está a senhora Ausência
apresento-vos:
despida como sempre
inteira como sempre
sofrendo perdas
acena lenços ao vento
vela os seus mortos
chora pelos filhos
as vidas partidas
horas sem retorno
memória pungente
corajosa senhora Ausência
fibra de mães e de mulheres
destemidas
a senhora Ausência
enche de perdão o coração
pinta o rosto do morto
guarda os seus sapatos
em sacos pretos
limpa a mesa de comida velha
abre armários centenários
cheios de tempo carcomido
arranha as unhas
em nossas vidas provisórias
sai para caminhar
ao sol
essa piedosa senhora Ausência
sempre na alma dos crédulos
e dos delicados
nunca parte
sempre a abrir portas
para os presentes
tão frágeis; pequeninos
eu vos peço
senhora Ausência
ficai! ficai!
não nos abandone
ficai! ficai!
com o seu séquito
de lembranças
inolvidáveis
precisamos tanto
tanto
sobreviver
para Silesi e Elisabeth Fortes