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mínimoIMENSO

FARIA, Hamilton, mínimoIMENSO. São Paulo: Casa dos Omaguás, 2013.

Potlatch em poesia: poética da dádiva

Há muitos anos realizo os lançamentos de meus livros em espaços públicos, para um grande número de pessoas, além de no tradicional circuito de livrarias. Atualmente passei também a divulgar a poesia pela internet, criando um site próprio (www.poetahamiltonfaria.com), publicando em redes sociais e outros sites especializados. Com a coleção Potlatch pretendo construir circuitos de pessoas com leituras múltiplas; circuitos poéticos, além da formalidade própria das livrarias.

O Potlatch é uma das mais importantes cerimônias de tradição nativa americana. Nesse ritual havia doação de bens materiais, sem retribuição imediata ou futura. Os bens distribuídos ainda eram caros para os seus donos; os pertences eram ainda úteis. Pelo próprio nome – Potlatch é doação. Trata-se de um processo simbólico e não econômico; age na esfera dos afetos e dos encontros. Deve celebrar a vida e não acumular bens. Se alguma economia for gerada, será uma economia da dádiva.

Os livros desta coleção são em formato de bolso, para serem carregados com leveza a qualquer lugar. Após a leitura, o destino deste livro é ser doado para outro leitor: amigo, desconhecido, deixado em algum lugar para ser encontrado como um pequeno presente, no ônibus, no metrô, na casa de alguma pessoa, ou em qualquer lugar público.

Potlatch estará sempre aberta a ser financiada ou apoiada por aqueles que acreditam na doação poética. Este primeiro livro, mínimoIMENSO, teve a doação de várias pessoas, das quais destaco a designer Marilda Donatelli, que participou da concepção e da realização do livro. O fato importante é que a circulação não envolve dinheiro para compra ou venda. O livro será sempre ofertado pelo autor.

No lançamento dos livros, haverá sempre uma conversa poética sobre a criação literária e processos de reencantamento do mundo. E leituras. Sempre com a presença do autor. Ações simbólicas desta natureza, cultivadas pela palavra poética – que transforma língua em linguagem – são fundamentais em todos os tempos, especialmente em momentos de mercantilização da vida. Há que se repor poesia no mundo, estimulando as poéticas da existência – reserva cultural imaterial em fase de extinção. E aí. a doação é essencial.

Aprendi a doação de símbolos e poemas com algumas pessoas, entre elas, a minha mãe, Julíbia Jupyra Barreto de Faria, que distribuía doces e pedras e meu pai, Rômulo da Costa Faria, que distribuía palavras em casa; com o poeta Heitor Stockler de França que distribuía poemas nas ruas e casas, guardando sempre alguns pequenos livros no bolso; com a poetisa Helena Kolody, que também distribuía diretamente seus livros, na medida em que circulava; e, finalmente, aprendi com a Cooperativa de Escritores, que eu e outros poetas fundamos, e que marcou presença no país em meados dos anos 70. A todos a minha homenagem.

O destino da poesia é ser de graça. Dádiva.

Potlatch!

A ideia é criar correntes de reencantamento, construídas a partir do poema, na relação direta com as pessoas, não necessariamente leitoras.

Hamilton Faria

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