Avançar para o conteúdo

o auscultador

eu ausculto as sombras da fumaça
e as jovens enamoradas no escuro
eu ausculto os corações trovejantes
e a paz que se inaugura nos suspiros
eu ausculto o que tem a cor do sono
o que dança nas vidraças
e no vidro perfeito dos diamantes
eu ausculto o rio encurvado da desordem
e as feições de rotina das cidades virulentas
eu ausculto o passo apressado dos sonhos
e o sopro espantado dos irrelevantes
e dos meninos a dor sem janelas
os olhos perdidos sem espanto
e dos homens crescidos eu ausculto
o verde debruçado nos telhados
a contemplar o mundo dos soluços
e a guerra o drama sem contornos
sei que o mundo gira no crepúsculo
o rio não para na montanha
e a faísca vem com doce e fúria
habitando a palavra dos amantes
libertando o fardo no longínquo
rio que adormece no oceano

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *